Uma investigação da própria polícia de Israel, relatada pelo jornal israelense Haaretz, aponta que Tel Aviv causou o maior número de mortes no festival Universo Paralello – Supernova, nas proximidades da comunidade Re’im, perto de Gaza, em 7 de outubro. As informações são do jornalista William Van Wagenen, no The Cradle.
Os fatos vão na contramão da versão apresentada pelo governo de Israel sobre o massacre, que acusou as brigadas Qassam, o braço militar do Hamas, de ter premeditado o ataque contra festa rave, em que ao menos 364 civis foram assassinados.
Segundo documentos e relatos de militares, a Polícia de Fronteira de Israel foi enviada para o local em que acontecia a festa antes do Hamas tropeçar no festival, causando a eclosão de uma grande batalha.
Embora alguns participantes da festa tenham sido de fato mortos pelo Hamas, “as evidências sugerem agora que a maioria das mortes de civis foram provavelmente infligidas pelas próprias forças israelenses, devido ao poder de fogo esmagador utilizado pelos militares, incluindo os helicópteros de ataque Apache e adoção do Protocolo Aníbal para impedir o Hamas de sequestrar israelenses”, relata o texto.
Operação Cavaleiro Filisteu
Em 7 de outubro, às 6h30, os combatentes do Hamas lançaram a sua operação militar, disparando uma barragem de mísseis contra Israel. Embora o exército de Israel demorasse horas para responder ao ataque, unidades da Polícia de Fronteira foram rapidamente mobilizadas.
Às 6h42, apenas 12 minutos após o lançamento da operação do Hamas, o comandante do Distrito Sul da Polícia Israelense, Amir Cohen, deu uma ordem com o codinome “Cavaleiro Filisteu”, enviando policiais que estavam em alerta para diversos locais de combate.
“A investigação da polícia israelense indica ainda que o Hamas não tinha conhecimento do festival e que o alvo era Re’im, a sede da Divisão de Gaza do exército de Israel.”
De acordo com um alto oficial israelense em conversa com o The New York Times, os primeiros reforços formais ao sul de Israel vieram de comandos que chegaram em helicópteros. Sagi Abitbol, um polícia que trabalhava como segurança no festival, foi um dos primeiros a confrontar os combatentes do Hamas e testemunhou a chegada antecipada destes helicópteros.
A investigação da polícia israelense indica ainda que o Hamas não tinha conhecimento do festival e que o alvo era Re’im, a sede da Divisão de Gaza do exército de Israel, localizada na Rota 232, a mesma estrada do local do festival.
Em meio ao combate em Re’im, o comandante da base militar coordenou ataques aéreos de helicópteros Apache na própria base, para repelir o ataque do Hamas.
O Haaretz cita uma fonte policial que afirmou que os helicópteros Apache “dispararam contra os terroristas e aparentemente também atingiram alguns dos foliões que estavam lá”.
Rota 232 bloqueada por Israel
Já após o lançamento de mísseis a partir de Gaza e antes dos combatentes do Hamas chegarem na Rota 232, os organizadores do festival Supernova interromperam o evento e emitiram ordem de evacuação do local.
De acordo com um oficial da polícia citado pelo Haaretz, a maioria das cerca de 4.400 pessoas que participavam da festa “conseguiu escapar, após a decisão de acabar com o evento, que foi tomada quatro minutos após o lançamento de foguetes”.
No entanto, quando as pessoas saíram do local do festival de carro e seguiram para a Rota 232, a polícia israelense estabeleceu bloqueios na estrada, levando a um engarrafamento que prendeu muitos foliões na área onde o Hamas e a Polícia de Fronteira entraram em conflito.
“Imagens de câmeras corporais mostram também que os policiais israelenses, fortemente armados, atiraram contra as árvores onde os civis se abrigavam.”
Testemunhas relataram também que, em meio ao caos, as pessoas presas na estrada fugiram para o leste, para campos abertos, em carros ou a pé. Muitos conseguiram passar pelos campos e se esconderam perto de árvores e debaixo de arbustos.
Agora, imagens de câmeras corporais mostram também que os policiais israelenses, fortemente armados, atiraram contra as árvores onde os civis se abrigavam.
Protocolo Aníbal
Indícios apontam ainda que as forças israelenses não tinham apenas o poder de fogo, mas também uma ordem oficial para matar israelenses nas proximidades do festival.
Uma das principais razões pelas quais o Hamas lançou a operação contra Israel, era a possibilidade de sequestrar civis que pudessem ser trocados pelos milhares de palestinianos mantidos em prisões israelenses.
“Mas as forças de Israel estavam determinadas a impedir o Hamas de levar os prisioneiros de volta para Gaza, mesmo que isso significasse matar os civis capturados. Uma investigação sobre o controverso Protocolo Aníbal de Israel conclui que ‘do ponto de vista do exército, um soldado morto é melhor do que um soldado cativo que sofre e força o Estado a libertar milhares presos para obter a sua libertação‘”, diz a reportagem do The Cradle.
De acordo com uma investigação do Yedioth Ahronoth, até então o Protocolo Aníbal só se aplicava aos prisioneiros do exército. Contudo, em 7 de outubro, foi emitido também contra civis israelenses. O diário de língua hebraica escreveu que “ao meio dia de 7 de outubro, as Forças de Defesa de Israel ordenaram que todas as suas unidades de combate colocassem em prática o Protocolo Aníbal, embora sem mencioná-lo explicitamente pelo nome”.
A ordem era impedir “a todo o custo qualquer tentativa dos terroristas do Hamas de regressarem a Gaza, isto é, apesar do receio de que alguns deles tenham sido raptados”, concluiu a investigação.
Reportagem reproduzida do site GGN
Sobre os autores
é repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro, também é especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.